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Contra a maré no mar da Comunicação

Como profissional da Comunicação, Elmar Bones tem enorme experiência e uma visão muito crítica das redações do País. Várias vezes Prêmio ARI de Jornalismo, de seu currículo fazem parte: Folha da Tarde, Folha da Manhã, o Jornal Estado de S. Paulo, também conhecido como Estadão, e as revista Veja e Isto É. Além disso, foi um dos fundadores, na segunda metade da década de 1970, da Cooperativa dos Jornalistas, que lançou o Coojornal.

 

Já naquela época, ele apostava num espaço para a informação fora do esquema tradicional. Mas, também naquela época, o projeto – jornalismo feito com independência em empresa administrada por jornalistas - teve vida curta. Morreu em 1980. Sobrevive na lembrança de quem o idealizou.

Elmar Bones gosta de remar contra a maré? O mais acertado talvez seja dizer que ele não é um conformista. E está pagando um alto preço por isso. Desistir? Nunca. Nesta entrevista ao site da ARI, ele fala sobre o impacto financeiro que JÁ Editores sofreu em decorrência do processo movido pela família Rigotto e diz o que espera da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). No final, pede que a Associação Riograndense de Imprensa use a sua legitimidade para colocar em discussão os caminhos da Comunicação no Brasil.

 

P – Como o jornal JÁ resolveu investigar a fraude contra a CEEE e a partir de quando?                

Elmar Bones - Em 1996, quando a Assembleia Legislativa fez uma CPI sobre a fraude contra a CEEE, na qual o Lindomar Rigotto era acusado, já tinha feito uma reportagem para o JÁ. Isso foi em 2001. Nosso destaque, porém, não eram os funcionários acusados de corrupção e sim as empresas, grandes empresas, apontadas como corruptoras. Creio que foi a primeira vez que uma CPI apontou quem subornava os funcionários. "CPI aponta Corruptores" foi a manchete. .

 

P - Quem está no centro dessa história e o que ela realmente envolve?

Elmar Bones - No centro dessa história está a maior fraude cometida contra os cofres públicos do Rio Grande do Sul, um processo que corre em segredo de justiça há 18 anos e ainda não saiu da primeira instância, envolvendo 23 pessoas físicas (dirigentes e funcionários da CEEE), 11 empresas (a lista está no jornalja.com.br). Seria R$ 800 milhões em valores atualizados o valor do prejuízo causado à CEEE, que, como se sabe, é uma empresa estatal.

 

P - Por que a reação da família Rigotto - especialmente da mãe – foi tão forte?

Elmar Bones - Lindomar Rigotto foi apontado na CPI, e nas outras três investigações que comprovaram a fraude, como o "operador" do esquema. Mas era um entre 23 indiciados, entre eles o presidente da companhia. Ele começou a ganhar destaque quando uma moça nua caiu de seu apartamento no 14º andar de um edifício na rua Duque de Caxias, a poucos metros do palácio do governo. Apesar de espetacular, esse fato não nos interessou, até porque a imprensa em geral deu grande destaque; acho que fizemos apenas uma nota para registrar. Mas quando ele foi assassinado um ano e pouco depois, a coisa mudou de figura. Ele se tornara o mais notório entre os envolvidos, as matérias sobre sua morte enfatizam isso, mas pouco dizem sobre os demais implicados. Depois, foi como se, com a morte dele, o assunto estivesse encerrado.  Foi por aí que começamos. Depois que a reportagem ficou pronta ainda ficou na gaveta uns seis meses, à espera de um "gancho". O assunto simplesmente sumira. O advogado da família apontou como uma das provas da nossa má-fé o fato de ter publicado a reportagem em um momento em que ninguém mais falava do assunto... Entendo a indignação da senhora Julieta Rigotto e foi penoso estar diante de uma senhora, que poderia ser minha mãe, me execrando como se eu fosse um jornalista marrom atacando a memória de seu filho. Obviamente com os olhos de mãe ela não poderia ter entendido a reportagem. Mas acho que a indignação dela, compreensível, foi usada para propósitos políticos. Escrevi um livro sobre isso. Estava na banca da ARI, na Feira do Livro.

 

P - Quais foram os prejuízos que essa reação lhe causou? E como lidou com eles?

Elmar Bones - As duas alegações principais da denúncia encaminhada pela Artigo 19 à Corte Interamericana de Direitos Humanos são: o alto valor da indenização imposta e o cerceamento ao direito de defesa, circunstâncias que, combinadas, decretaram não só o fim do jornal, como da editora que se desenvolveu a partir do jornal e que publicou 42 títulos. Entre eles, duas coleções de fascículos, pioneiros dessa retomada da historiografia local e regional. Posso falar isso, porque não é obra minha, é de dezenas, talvez centenas, de jornalistas que se aglutinaram em torno do jornal e foram descobrindo novas formas...foram testando modelos. O que muita gente não entende (ao mesmo tempo muita gente entende) é que o JÁ sempre foi um laboratório, a busca de um modelo de jornal que pudesse ser sustentável - rentável e independente. Criou-se uma estrutura de produção de conteúdo no entorno do jornal, para poder manter um grupo, para ir testando novas formas de narrativas jornalísticas, no jornal nos livros, nas revistas, na internet...

 

P - O que significa a denúncia à Corte Interamericana de Direitos Humanos? Que resultado espera disso?

Elmar Bones - A denúncia do "Caso Já" à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) foi iniciativa de uma instituição internacional chamada Artigo 19, que monitora assuntos de direitos humanos e liberdade de imprensa em países que são signatários de acordos na Organização dos Estados Americanos, o Brasil entre eles. Eles viram o caso na internet e pediram informações. Acabaram montando um processo que deu entrada na CIDH dia 10 de outubro passado. A corte não pode revogar uma decisão do judiciário brasileiro, mas se concluir que essa decisão fere a liberdade de expressão ou de imprensa, o Estado brasileiro terá que indenizar os prejuízos decorrentes dessa decisão. Estou com o jornal, o Já Bom Fim. Ele havia parado de circular, eu já estava quase desistindo, mas essa denúncia à CIDH, por uma instituição internacional, como a Artigo 19, me animou. Nem tudo está perdido...Decidimos então tirar três edições comemorativas dos 25 anos do nosso Já Bom Fim, mas ainda não sei se vai ter continuidade, estamos retomando do zero, está muito difícil fazer qualquer coisa no Rio Grande do Sul, ainda mais jornalismo independente! 

 

P – Aliás, a sequência do Prêmio ARI de Jornalismo, desde a sua criação, mostra um aspecto interessante: a preponderância de nomes e de um veículo, que se repetem; depois, uma inversão. A impressão é de impossibilidade de convivência num mesmo patamar. É um ou outro. O que isso significa em termos de qualidade na informação e em termos de empreendedorismo na área da Comunicação?

Elmar Bones - A questão da mídia nesse momento não é um problema só da mídia, é um problema do País, um problema da democracia brasileira. Estão aí os números do governo e não vejo nenhuma contestação consistente: vinte ou trinta milhões alcançaram outro patamar na pirâmide social. Isso é um movimento econômico-social-cultural de grande impacto, que atinge uma sociedade que já passa por uma transição fantástica, com a drástica redução da taxa de natalidade, o aumento da expectativa de vida...ao mesmo tempo em que engatinha num caminho democrático, depois de longo período de autoritarismo...então é uma transformação muito ampla e profunda, algo muito rico, mas também perigoso. Todas as instituições brasileiras estão em cheque diante dessa nova realidade, principalmente a mídia, até pelo seu pouco institucional comportamento. Não apenas as novas tecnologias digitais estão desafiando a nossa mídia dominante. Essas, ela provavelmente vai absorver e colocar a serviço de seu modelo. A coisa é mais grave. Assim como temos um colapso na infraestrutura - energia, estradas, saneamento - temos também um colapso nas vias de comunicação. No caso da mídia é mais grave porque ela não se dispõe à autocrítica; ao contrário, procura desqualificar e silenciar os críticos. A grande mídia tornou-se uma corporação fechada, quase homogênea. Há muito ela não dá mais conta da demanda por informações mais diversificadas e qualificadas, que essas mudanças todas geram na sociedade, Ela tem poderes tais que não atende às necessidades do mercado, mas não deixa ninguém entrar. Os projetos fora da corporação hegemônica sobrevivem precariamente, são praticamente a exceção que confirma a regra. Resultado é que o cachorro está mordendo o próprio rabo, está sendo atropelado pelas mudanças e não sabe o que fazer. Isso é gravíssimo porque a consolidação da democracia no Brasil está na razão direta da ampliação da participação da sociedade nas decisões e nos controles... e a matéria-prima para isso é a informação, não essa informação pasteurizada, superficial, sensacionalista...Outras informações, outros enfoques, outra linguagem... Para isso precisaríamos ter milhares de pequenos projetos editoriais, abrindo novos caminhos, encontrando meios de levar a informação que a cidadania precisa para intervir no processo político...enfim, uma grande discussão que uma instituição como a ARI tem legitimidade para levar. 

 

 

A vida pede atitude

A família era humilde. Assim, o menino nascido em Rio Pardo, no dia 27 de novembro de 1954, calçou seu primeiro par de sapatos somente aos 10 anos de idade. Mas já sabia da existência de um mundo imenso e rico além de sua paisagem cotidiana, porque ouvia a rádio Guaíba.

 

Influenciado por ela decidiu que seria jornalista. Estava com 14 anos.

Depois também virou empresário, como dono da Editora Tchê. Mas tomou uma decisão revolucionária quando voltava de uma viagem ao México: aposentar a rotina e abdicar do conforto para se aventurar em viagens radicais. Desde então foi ao Tibete, ao Kilimanjaro e a outros lugares em que mortais comuns não ousam colocar seus pés. Desde então escreveu 15 livros. E, em dois deles, revela mais uma face: a de romancista. Sua obra mais recente é Atenas, que ele vai autografar na Feira do Livro.

 

No perfil dele, publicado no site Coletiva, Ortiz diz: “Já me perguntaram se é difícil escalar uma montanha, mas o difícil mesmo é chegar à conclusão de que escalar aquela montanha é importante pra ti. Tem que ter CHA: Conhecimento, Habilidade e Atitude, ou seja, tem que se conhecer em primeiro lugar, tem que possuir habilidades e, o mais importante, é necessário atitude para colocar tudo isso em prática. Sem atitude somos simples mortais e não iremos a lugar nenhum.”

 

No livro “Pelos caminhos do Tibete”, uma atitude dele serve de ponto de partida para esta entrevista. Tem a ver com a liberdade de imprensa. E, de certa forma, cabe no momento atual, quando discutimos se as biografias precisam da prévia autorização do biografado. Na página 123 do livro, Ortiz conta o diálogo que teve com um casal alemão, logo depois de  sua conversa com um chinês em um bar de Lhasa, a capital do Tibete.

 

Quando revela ao casal que gravou o que ouviu do jovem sem avisá-lo disso, Corinna e Volker estranham e perguntam se o budismo permite isso. O escritor responde que não é budista. “Mas o que é, então? – quer saber Corinna. A resposta de Ortiz:  “Sou jornalista".

 

 

P - O jornalista pode atravessar a fronteira entre a sua necessidade de saber e o direito que o outro tem a se guardar? Na existência de um limite, qual é?

Airton Ortiz - Quando o entrevistado for citado na matéria com o seu nome verdadeiro ele tem o direito de saber que está falando para esse fim, isto é, para ser publicado. Nesse caso, o jornalista pode perguntar o que quiser e o entrevistado pode responder o que quiser. Esse é o limite. Mas se o entrevistado não for citado, ou se for citado com um pseudônimo, o jornalista pode usar a informação obtida sem que a fonte saiba que está falando para ser publicado. Assim, protege-se a pessoa sem precisar omitir a informação do leitor.

 

P - O fato de uma pessoa ser o que chamamos de "pública" não lhe deixa nenhum espaço para arquivo pessoal?

Ortiz - Há dois tipos de pessoa pública: aquela que só é notícia porque é pública, isto é, as que são celebridades somente porque se expõem publicamente; e as que são públicas devido à sua obra. Uma pessoa que é famosa apenas porque expõe sua vida em público não pode reclamar de invasão de privacidade. Pelo contrário: ela se promove justamente por isso. Já aquelas que são famosas por sua obra podem, e devem, ter a obra exposta em todos os detalhes, mas deve haver limites quanto à vida pessoal. Em caso de conflito de interesses entre o livro publicado pelo biógrafo e o biografado, recorra-se à justiça. Um grande escritor, por exemplo, não pode reclamar das críticas aos seus livros. Mas pode exigir privacidade na sua vida pessoal. Exceto, é claro, se a vida pessoal dele for fundamental para compreendermos sua obra. Infelizmente, no Brasil as pessoas são mais famosas por si mesmas do que pela obra, então há essa confusão.

 

P - Roberto Carlos e cia - Caetano Veloso no meio - querem impedir a publicação de biografias não autorizadas. Você acha que devem ser atendidos pela justiça?

Ortiz - As biografias devem ser publicadas independentemente de o biografado concordar ou não. Caso ele se sinta ofendido, deve procurar reparação na justiça. Chamamos isso civilização.

 

P - Nas tuas andanças pelo planeta, já te deparaste com situações que resolveste deixar de lado em teus livros por achar que seriam invasivos com as pessoas envolvidas?

Ortiz - Quando acho que a pessoa poderá ser prejudicada por eu revelar o que me contou costumo usar um pseudônimo. Isso é comum quando estamos em países ditatoriais. Sonego do meu leitor o nome da fonte, jamais o fato. Claro, isso caso se trate de fato relevante para a história que estou contando no livro.

 

P - Estarás na Feira do Livro com Atenas, segundo soube. Para onde vai te levar a próxima viagem? E quando?

Ortiz - Meu próximo livro será sobre Paris. Pretendo morar por lá no ano que vem e voltar com ele pronto. Serão crônicas sobre a cidade, como já fiz com Havana, Jerusalém e Atenas. A ideia é mostrar para o leitor a alma da cidade, aquilo que o turista não tem tempo pra ver.

 

P - Qual foi o livro mais difícil de ser construído? E como foi a transição da aventura radical para o romance (uma aventura mais radical ainda?)

Ortiz - O livro mais difícil foi o “Pelos caminhos do Tibete”, exatamente por retratar o país dos monges budistas sob o domínio da ditadura chinesa. Nesse livro, para proteger as pessoas com quem falei, dei-lhes pseudônimos. Mas não soneguei os fatos aos meus leitores. Eu fui o último jornalista a entrar de forma independente no Tibete e, por isso, até hoje a imprensa mundial me consulta quando há conflitos por lá. Tanto na reportagem quanto no romance as histórias são as mesmas porque a ficção imita a realidade, e vice-versa. Em especial no meu projeto literário. O que muda é a linguagem. E como! Uma boa reportagem deve ser precisa, não pode deixar espaço para a dúvida do leitor. Um bom romance deve ser impreciso, deixando espaço para o leitor completar a história a partir das suas referências pessoais. Como escrevo reportagem, crônica e romance, gosto de dizer que em termos de linguagem a reportagem informa, a crônica sugere e o romance insinua.

 

 

Há sempre um desafio a vencer

Foto de Marco Quintana

80 anos. O Jornal do Comércio chegou a essa idade, que completou em 25 de maio deste ano, vencendo desafios. E se os prognósticos se confirmarem, daqui a duas décadas ele será um centenário gaúcho levando informação a seus leitores. Mas então com conteúdo produzido em outro endereço. Não mais na Avenida João Pessoa, onde está desde 1967, afirma seu diretor-presidente, Mércio Tumelero.

 

A história do “Jota Cê” começou em 1933, como boletim de negócios portuários. Era então o Consultor do Comércio, criado por Jenor C. Jarros e Zaida Jayme Jarros, com impressão feita em mimeógrafos e circulação de três em três semanas. Isso mudou 23 anos depois de sua fundação, em 1956, quando ganhou circulação semanal como Jornal do Comércio.

 

Em 1960, nova mudança. A partir desse ano ele chega a seus leitores de segunda a sexta-feira. Isso pode mudar? O jornalista Hélio Gama, que dirigiu a redação do jornal nos anos 1990, pensava em uma edição para o final da semana.

 

O empresário Mércio Tumelero é diretor-presidente do JC desde 1998. Quando assumiu o cargo encarou um desafio já enfrentado em outras redações do mundo e também de Porto Alegre: a necessidade de adequar o jornal aos avanços tecnológicos, da produção ao produto final. Assim,  máquina foi substituída pelo computador, virando peça de museu; e as páginas em preto e branco ganharam cor.

 

A economia continua sendo a principal editoria do JC. Mas sua edição diária informa também sobre o que acontece na política, na justiça, nos esportes e na cidade, incluindo um olhar sobre o mundo da arte através do Panorama. Afora isso, oferece os cadernos Empresas e Negócios (segunda-feira), Jornal da Lei (terça-feira), Contabilidade (quarta-feira), Logística (quinta-feira), Automotor e Viver (sexta-feira).

 

Outras 27 edições especiais fazem parte da produção. Entre eles: Dia da Indústria, Marcas de quem decide; Feira do Livro, JC Mulher, Construção, Expointer, Telecomunicações, Meio Ambiente, Gastronomia e Vinhos, Pós-Graduação, Dia do Comércio, Semana Farroupilha, Vinhos e Espumantes, Responsabilidade Social, Saúde e Bem Estar, Dia do Médico e Perspectivas.

 

E como todo esse trabalho convive com a internet, concorrente que derruba todas as fronteiras e divulga o que se passa no mundo pisando no acelerador, às vezes em tempo real? Analistas afirmam que não há possibilidade de o jornalismo impresso sobreviver ao impacto que os blogs, os sites e as redes sociais causam sem transformá-los em aliados. Também sobre esse assunto fala o diretor-presidente do Jornal do Comércio na entrevista que segue.

 

P - O Jornal do Comércio mudou muito ao longo dos últimos anos, especialmente depois que o senhor assumiu a presidência. Qual foi, na sua visão, o passo mais importante?

Mércio Tumelero - Sem dúvida, o passo mais importante foi o foco na qualidade. Como o nosso jornal é segmentado e atinge principalmente a área empresarial, executivos, profissionais liberais, advogados e outras pessoas ligadas a estas áreas, procuramos qualificar nosso produto. Houve uma evolução que envolveu do texto, da fotografia e da diagramação à entrega do jornal na casa ou escritório dos assinantes. Criamos um programa de qualidade que nos permitiu avançar muito, para atender a este público, que é extremamente exigente.

 

P - Em que grau o senhor se preocupa com a concorrência que a evolução da tecnologia representa, acelerando o processo da comunicação via internet?

Mércio Tumelero - A nossa preocupação, e a de todos os grandes jornais, é permanente. Acompanhamos passo a passo a evolução da comunicação via internet. Trabalhamos com pesquisas e com bastante informação, porque sabemos que esse avanço é inevitável e por isso temos que estar em evolução permanente para saber quais os caminhos que se consolidarão na comunicação do futuro.

 

P - A economia é o grande foco do Jornal do Comércio, que fala basicamente ao mundo empresarial, mas também concede generoso espaço aos temas ligados à cultura – arte, literatura, comportamento. Uma edição dominical continua fora de cogitação?

Mércio Tumelero - Por enquanto, continua fora de cogitação. Já pesquisamos a viabilidade de uma edição dominical, mas não vemos a possibilidade de trabalhar com uma edição dominical hoje. No futuro, dependendo das condições do mercado e do avanço da internet, não descartamos esta possibilidade.

 

P - Há poucas semanas correram notícias sobre a mudança de endereço da redação do Jornal do Comércio.  Exatamente para onde? O que vai funcionar no endereço atual?

Mércio Tumelero - Nós já adquirimos um prédio na Avenida Pernambuco, 1.124, no bairro São Geraldo, mas estamos ainda na fase de pré-projeto. Portanto, a mudança não deverá ocorrer imediatamente. Segundo nossa avaliação, possivelmente ela se consolidará em um ou dois anos.

 

P - De jornal feito na máquina de escrever ao computador; da foto em papel ao arquivo virtual. Isso significa modernização. Em contrapartida, a linguagem – o texto - que leva a notícia ao leitor mantém certa sisudez em todas as áreas. Isso é imutável?

Mércio Tumelero - Não, isso não é imutável, acho que nós já mudamos bastante. Há uma linguagem jornalística padrão que se adapta conforme o público leitor. Nós temos um público que busca informações econômicas, de negócios, de política e de cultura. É um público mais maduro e que utiliza, no seu dia a dia, uma linguagem um pouco mais formal. É essa linguagem que está nas páginas do JC, mas, é claro, que acompanhamos as mudanças tanto de linguagem quanto de costumes e procuramos estar em permanente evolução. Buscamos, no dia a dia, transformar essa linguagem, um pouco mais dura, em um texto que seja agradável de ler sem abrir mão de sua objetividade e seriedade.

 

P - O senhor teve formação para outra área empresarial. O jornalismo é uma atividade poderosa - dizem que é o quarto poder - e temida porque funciona como “olhos do povo” . Sua função não é elogiar, é denunciar. Exatamente por isso o jornalismo e os jornalistas são muito vulneráveis. Como o senhor vê isso?

Mércio Tumelero - Minha formação é de Administração de Empresas. Eu acredito que a função do jornalismo não seja especificamente de elogiar e de denunciar. A função principal dos meios de comunicação é dar a informação correta, adequada a seu público leitor, permitindo a ele que tire suas próprias conclusões. É verdade que os crimes contra os jornalistas têm aumentando muito no Brasil nos últimos tempos, mas não acredito que os jornalistas sejam mais vulneráveis do que tantas outras categorias profissionais que também correm riscos em função de suas atividades. O ideal é que esse risco não existisse para nenhum profissional, em nenhuma área, mas infelizmente a nossa sociedade, como tantas outras, tem ainda muito para evoluir. 

 

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