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Água é poder

 

 

O controle da água significa poder. Portanto, quem não a desperdiça, não deixando que escorra à toa pelo ralo, mostra que é inteligente, bem informado, sensível, solidário e amigo da natureza. A importância e a preservação desse recurso, que é finito, estão no foco da ARI, que, desde 2011, promove o Forum de Gestão Ambiental, com aval da Unesco. A coordenação é do jornalista Ercy Torma e a curadoria, de Ilda Faria.

 

A água é um bem estratégico. É uma questão de soberania. Isso explica por que gente como Denis Schmidli, gerente de produção da Pictet Water, coloca tanta ênfase na defesa da privatização do recurso, que é absolutamente imprescindível à vida no planeta que habitamos. Ora está no profundo da terra, em regiões onde a falta de tecnologia impede que seja trazida à tona; ora flui em longos, sinuosos e largos percursos, como o rio Amazonas e seus afluentes; desce rochedos em forma de cascata; está presente nas frutas, nas verduras e também nos grãos, como a soja; vira gelo nas temperaturas muito baixas; vapor quando a chaleira chia sobre o fogão; e, depois de virar nuvem, despenca novamente sobre a terra, agora em forma de chuva.

 

Então não há motivo para preocupação? Negativo. A notícia acabrunhante vem da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). A entidade diz que menos da metade da população mundial tem acesso à água potável – apenas 6% se destinam ao consumo doméstico. Em contrapartida, a irrigação nas lavouras aproveita 73% e 21% vão para a indústria. Mas Ercy Torma chama atenção para o que diz a ONU: de toda água existente no planeta, apenas 3% recebem tratamento. E desses 3% somente 0,7%  vai para consumo humano. Riccardo Petrella, economista e cientista político italiano radicado na Bélgica, afirma que “a escassez da água, da qual atualmente todo o mundo não para de falar, não é uma rarefação da quantidade de água em si, porque a quantidade de água doce que temos hoje é a mesma de 200 milhões de anos atrás”. O problema é a perda de qualidade dessa água quando destinada ao consumo humano.

 

Os dados da Unicef confirmam a declaração de  Petrella. “Um bilhão e 200 milhões de pessoas (35% da população mundial) não têm acesso à água tratada. Um bilhão e 800 milhões de pessoas (43% da população mundial) não contam com serviços adequados de saneamento básico. Diante desses dados, temos a triste constatação de que dez milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças intestinais transmitidas pela água”, alerta a entidade. E isso endossa o sociólogo italiano quando ele afirma que esta situação impõe às autoridades governamentais a necessidade de providenciar as condições técnicas, econômicas e sócio/políticas que levem água para onde ela está faltando.

 

A água potável é simplesmente uma questão de vida e morte. Além dos humanos, necessitam dela as plantas e os animais. Mas as populações que têm acesso a ela, bastando para isso que abram a torneira em suas casas, nem sempre sabem que a distribuição desse recurso no planeta não é tão democrática quanto deveria ser. Em Nova Iorque, ainda segundo a Unicef, uma pessoa chega a “gastar dois mil litros por dia”; no continente africano, esse consumo baixa para 10 a 19 litros/dia. Em demorado banho de chuveiro, o morador de Porto Alegre pensa na sede do nordestino castigado pela seca? E lhe passa pela cabeça que a falta de água possa servir de justificativa para uma guerra?  E pode. No Oriente Médio, a escassez do recurso é um dos motivos pelos quais o governo de Israel insiste nos assentamentos na área palestina, o que contribui decisivamente para dificultar um acordo de paz na região.

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